Sábado agora eu volto a me apresentar (ou volto aos palcos, que é mais chic) depois de exatos três anos. Muitas coisas aconteceram de lá pra cá e com certeza o agravamento da A.R. foi o que mais causou mudanças. Logo depois da apresentação de 2014 eu parei o ballet e comecei a yoga e um bom tempo depois eu consegui unir minhas duas paixões.
Dom Quixote em 2014 no Teatro Gazeta
Em junho do ano passado eu comecei uma nova fase no tratamento da artrite, uma fase, como já contei por aqui bem difícil, dolorosa e totalmente baseada na "medicina alternativa" e mais ou menos pelos mesmos dias eu me comprometi a dançar com o BLA (Ballet Livre Adulto) no seu primeiro espetáculo. A verdade é que eu não tinha a mínima ideia do que me esperava pela frente.
Quando começaram os ensaios a pessoinha aqui mal estava conseguindo andar, eu tinha dificuldades pra levantar da cadeira ou do sofá e as dores eram constantes. Lembro que nos primeiros ensaios eu só "marcava" e fazia uma pequena parte da aula apenas. Minha perna direita não chegava aos 45 graus, um grand-plié era impensável e eu não subia na meia ponta, fazia de retirés à pirueta com o pé inteiro no chão e boa parte da aula eu ficava com a mão na cintura porque tinha dificuldades em mexer os braços.
Com tudo isso é óbvio que me questionei muitas vezes se eu realmente teria condições de dançar, mas eu sempre pensava que março estava beeeeeeeem longe e até lá estaria tudo ok. Mas eis que março começou a ficar próximo e um certo pânico começou a aparecer. Mas junto com o pânico também começaram a aparecer evoluções... o grand-plié começou a sair, a perna começou a subir e cada aula/ ensaio era uma vitória, um avanço, uma possibilidade.
Esse processo todo me ajudou a entender o quê é o "ballet adulto" - dançar pra ser feliz, sem cobranças, sem ser perfeito, mas com muito amor por essa arte linda. Entendi também a dádiva que é poder dançar com as minhas amigas, pela primeira vez na vida estou em um grupo onde só tem gente linda (no seu mais profundo significado) e onde boa parte do grupo já era de amigos queridos; isso além de ser muito legal foi primordial para que eu continuasse, para que eu tivesse forças pra prosseguir e sem o empurrão dessa galera teria sido muito difícil chegar até aqui.
Aproveito esse espaço pra falar em como a minha querida amiga e professora Márcia Ylâna foi fundamental na minha vida nesse momento, não só me apoiando emocionalmente, mas me auxiliando nos pequenos detalhes e até em mudanças de coreografias para que eu me sentisse mais segura e forte pra dançar.
Só de escrever isso aqui já estou com vontade de chorar, imagina a emoção quando no sábado às 20h30 eu subir naquele palco do Teatro Gamaro. Foi muita força de vontade, muito choro e o presente pelo esforço não poderia ser melhor: subir naquele palco e dançar, dançar como nunca dancei antes, com meu corpo, com a minha alma, com esse misto de suor e lágrimas que faz tudo ter sentido.
Dias 25 de março e 08 de abril no Teatro Gamaro
Ingressos: https://www.eventbrite.com.br/