quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

20 anos de formada

Em dezembro fez 20 anos que me formei no Ballet, na Escola Municipal de Bailado de São Caetano do Sul.

Eu lembro quando comecei o ballet aos 8 anos de idade numa escolinha do lado de casa. Eu não lembro em que momento falei que queria fazer ballet, mas lembro da minha mãe dizendo algo como "advinha onde vamos te matricular?" e eu pulando e gritando toda feliz: ballet! ballet! Não tenho a mínima ideia se aconteceu exatamente assim, mas essa é a minha recordação. Pouco tempo depois infelizmente precisei parar: só havia turma de manhã e minhas aulas  na escola passariam a ser de manhã também. 

Aos 10 anos iniciei na Academia Eduarda Aguiar. Na "Tia Eduarda" fiz muitas aulas de ballet, jazz e sei lá mais o quê, dancei em tudo quanto é canto, até na TV, fiz uma apresentação no Programa Mara Maravilha e fiquei emputecida porque o cabeleireiro desfiou meu cabelo e porque meu figurino era diferente das outras meninas (longa história que não faz muito sentido hoje..rs). Lembro de mil outras apresentações que as meninas fizeram e minha mãe não permitiu que eu fosse porque, segundo ela, não eram adequadas (graças a Deus eu entendi logo que dançar em ringues de luta livre não era bem aquilo que eu queria pra mim). Também lembro quando todas colocaram pontas e minha mãe novamente não permitiu que eu as colocasse (como agradeço diariamente minha mãe por isso; eu era muito nova: na vida e no ballet).
Bem, acho que todas essas coisas e muitas outras fez com que minha mãe me levasse pra um teste na Escola Municipal de Bailado de São Caetano do Sul. Lembro que me levaram pra receber umas dicas de uma bailarina, filha de um amigo do meu pai (infelizmente não lembro nem o nome dela) e ela passou comigo algumas coisas que iriam cair na prova, disse que eu era linda, tinha um colo de pé incrível e que eu ia passar. No dia do teste, aquela que seria minha professora por vários anos, olhou pra mim, que estava parada lendo coisas no mural e me disse descontraída "olha! Você tem a perna em X, igual a minha!" Eu não tinha a menor ideia do que isso significava, mas quando vi que ela estava ali na banca me avaliando, senti uma confiança e uma tranquilidade que até hoje é a memória que trago dela. Essa querida chama-se Valéria Savassa e foi minha professora de ballet do terceiro até o oitavo ano.

A partir daquele dia de 1990, ingressei no segundo ano do Ballet e de onde só saí, formada, em 1996. As lembranças que tenho daqueles anos foi de muito aprendizado, muitas provas (tinha prova todo bimestre mesmo? rs) e muito amor. Dizem que a gente só se recorda do que é bom, talvez seja verdade porque dali só tenho boas memórias. Lembro que a sala era enorme e linda; lembro que minhas professoras, tanto a Valéria, quando a Cléo eram exigentes, mas muito boazinhas; lembro que a gente morria de medo quando a "Dona Toshie" estava na banca das avaliações e lembro que tomava um 'Mamy' todo fim de aula. Lembro que tinha uma delegacia ao lado e uma vez entrou uma interferência de rádio na nossa música clássica e ficamos apavoradas ouvindo o que os meliantes estavam dizendo, pensando ser algum preso da delegacia (nunca soube o que foi aquilo). Lembro também que eu fazia aulas de ponta, muitas vezes, sem ponteira e tive apenas 2 ou 3 bolhas no pé naquele tempo todo e eu sempre acreditei que isso se devia ao fato de eu ficar andando pela casa o dia inteiro de pontas: eu lavava louça, estudava, ia pra lá e pra cá sempre com minha companheira nos pés. Não lembro de competições loucas entre as alunas e lembro que tinha 3 Kare(i)ns e uma Karina na sala. Então lá eu sempre era a "Karin Araujo". Uma vez tive uma câimbra bizarra na coxa, durante um alongamento e lembro da dor até hoje. Lembro que fazíamos milhões de ron de jambe en l'air en dehors e milhões en dedans (parece que hoje não existe mais o tal do en dedans).


(nos fundos do Teatro Paulo Machado de Carvalho, provavelmente em 1995)

Às vezes eu penso que seu tivesse tipo mais oportunidades eu seria uma grande bailarina, às vezes acho que se eu tivesse me tornado uma bailarina profissional a artrite reumatóide teria destroçado meus planos. Já chorei por ter tido que parar, já fiquei anos sem ver um espetáculo porque me sentia frustrada. Mas hoje só tenho a agradecer: ao ballet e a todos professores maravilhosos que tive ao longo da vida. São 20 anos de formada, 31 anos que fiz uma primeira posição pela primeira vez, e entre os tropeços, por causa da artrite, 6 anos que voltei a dançar; sem traumas, sem frustrações, apenas com uma certeza: o ballet nunca sairá da minha vida. 


(quando eu voltei a dançar, acho que é 2011)


(brincando de fotografar no quintal de casa, 2016)

* Infelizmente não tenho imagens da formatura. Na época não existia câmara digital, muito menos smartphones e o custo das fotos era alto demais pro meu bolso :(

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