terça-feira, 27 de outubro de 2015

        Os últimos dias foram desesperadores. A expressão "parece que meu corpo passou numa máquina de moer carne", nunca fez tanto sentido. Mas além da máquina de moer alguém resolveu dar umas marteladas nos meus joelhos, cotovelos e ombros, eu disse ao médico que as únicas coisas que não doíam no meu corpo eram a bunda e a barriga, ele riu e disse que jamais teria um bom humor assim em situação semelhante (acho que foi a última gota do meu bom humor, inclusive).
        A coisa ficou tensa, comecei a duvidar do tratamento, das minhas tentativas, do amor, da amizade, acho que só quem passa por esse tipo de coisa sabe que a dor física é só um dos problemas. Nos últimos dias não fui pro Ballet, só de pensar num simples plié, o joelho doía; consegui ir em algumas aulas de yoga bem tranquilinhas, onde os professores muito queridos deram aula especial pra mim (mesmo com vários alunos em aula) com muitos pranayamas* e meditação, mas não fiz nada muito além disso porque as dores realmente estavam insuportáveis. 
        Ontem, depois de um fim de semana nada agradável resolvi tentar adiantar a consulta médica que seria apenas daqui 10 dias e foi a melhor coisa que eu fiz! Eu fiquei pensando um monte de coisas sozinha sobre se seria normal ter piorado, se os remédios não estavam fazendo efeito, se era isso mesmo, se não era... enfim fica a dica: na dúvida procure o médico logo e não fique sofrendo fazendo conjecturas sozinho.
        Vamos ao laudo médico: Voltar com o corticóide. Sim, um médico da Ayurveda mandou eu retornar ao corticóide, isso não significa que os remédios naturais não deram resultado, mas sim que é cedo para eles darem o efeito desejado e que infelizmente meu corpo não teve a reação esperada. Eu imagino que em qualquer terapia alternativa cada pessoa reage de uma forma e aquilo que é bom pra mim pode não ser pra minha vizinha com a mesma doença. E comigo foi assim: diminuir o corticóide foi ok, mas tirá-lo não. 
         Do restante nada muda, a dieta continua, agora terei uma dieta específica para o meu caso, levando em consideração meu dosha (Vata-Pitta) e a artrite reumatóide. Os remédios ayurvédicos continuam iguaizinhos e agora acrescentarei a prednisona a esta lista toda. Vou tomar uma dose bem baixa e ir acrescentando aos poucos para verificar a reação do meu corpo e parar na dosagem exata que ele precisa para ficar sem dor.
        Apesar de sempre ter pânico com esse medicamento, estou feliz que vou voltar a tomá-lo, pelo menos sei que em poucos dias terei minha vida de volta. Tomei uma pequena dose hoje e já senti uma leve melhora. 
        Bora passar mais essa fase.


Plié



*Pranayamas são exercícios de respiração com o objetivo de controlar a energia prana que permeia todas as coisas, criar um corpo saudável, aquietar a mente, trazer equilíbrio das emoções.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

          Terça feira iniciei um novo ciclo do tratamento, acabaram se as massagens com óleos terapêuticos, acabou a dieta anti- toxina e acabou o corticóide. Neste momento estou com os medicamentos ayurvédicos, a dieta, meu corpo e minha mente.
          A dieta não é tão restritiva quanto à anterior, mas ainda não posso comer boa parte das coisas às quais estava acostumada, e não vou dizer que está sendo fácil, às vezes tenho vontade de chorar porque dói e não posso me consolar numa bacia de brigadeiro com morangos (meu remédio certeiro para crises de TPM, por ex.), nem o chocolate, nem o morango são permitidos. Posso dar uma escapada em uma ou outra coisa? Posso! Mas não quero fazer isso até o retorno médico, quero ter a certeza que da minha parte estou fazendo tudo 100% correto, se o tratamento não funcionar, não será por falta de empenho. Enquanto isso sigo com uma dieta cheia de legumes, arroz, feijões que eu nunca havia provado, temperos diferentes, pão integral, algumas frutas e não muito mais que isso.
          Ainda não posso emitir uma opinião segura sobre o tratamento pois de fato, estou pior do que quando comecei: acordo travada, como se tivesse metade dos meus ossos quebrados e costumo dar uma super melhorada na primeira hora após levantar, isso é chamado de rigidez matinal no "mediquês", aí passo praticamente o dia todo com dores suportáveis em diversas partes do corpo e às vezes durante a tarde alguma parte é "atacada" e começa a doer muito mais. Apesar de dizer que piorei tenho que lembrar que estou sem o corticóide, que me acompanhava há meses e estar conseguindo suportar essas dores sem medicamentos é com certeza um grande avanço do tratamento, mas de qualquer forma ainda é cedo para qualquer tipo de conclusão.
           
Às vezes bate aqueles sentimentos estranhos de por quê eu, não aguento mais sentir dor, rola uma vitimização e tantos outros sentimentos não muito legais, digamos assim, mas prefiro ficar mais focada acreditando que sim, isso vai funcionar; aleluia estou sem corticóide; tenho conseguido praticar minha yoga e terça- feira ainda consegui fazer uma parte da minha aula de Ballet, os saltos e giros ficam pra logo, assim que eu estiver melhor.



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Conheci a história da Laura Pires porque ela foi convidada do Programa Bela Cozinha desta semana que teve como tema a Ayurveda e minha terapeuta/massagista me indicou. É uma história pra lá de inspiradora. 


Laura foi diagnosticada com esclerose múltipla aos 25 anos de idade e no desespero do agravar da doença e das impossibilidades de cura embarcou numa viagem à Índia que mudaria seu destino. Passou 25 dias em um hospital indiano, passando por tratamentos meio esquisitos, digamos assim, como mergulhar os olhos em ghee ou colocar capacete feito de pão e folha de bananeira dentro do qual eram despejados três litros de óleo medicinal aquecido. Eu estou recebendo esses óleos todos os dias, mas ainda não precisei vestir um capacete de folhas de bananeira ;)

Ela conta que todo ano vai à Índia para manutenção do tratamento e passa os mesmos 25 dias internada, segue à risca a dieta ayurveda e mudou seus hábitos de vida, como diminuir o ritmo (de tudo), praticar yoga e acordar cedo. 

É uma linda mulher saudável, terapeuta ayurvédica e acabou de lançar o livro: O Sabor da Harmonia – Receitas Ayurvédicas para o Bem-Estar. A história da Laura foi contada no livro "Em busca da cura" escrito pelo então namorado, Marcus Pessoa. Ainda não li o livro, na verdade, acabei de descobri-lo, mas essa entrevista aqui com ela está bem legal e dá pra ter uma noção da sua história.

"Quando você conhece esse caminho, o do autoconhecimento, você se dá conta de que não existe volta atrás. A responsabilidade que a gente tem de cuidar da gente é só nossa." (Pires, Laura)


terça-feira, 13 de outubro de 2015

Pindas

Entrei na segunda semana da dieta e iniciei as massagens com pinda. As Pindas, são saquinhos de tecido com ervas que vão sendo embebidos em óleo quente e, pressionados especialmente sobre as articulações, no meu caso. Achei a massagem bem gostosa, embora ela não seja necessariamente relaxante, ela tem ação anti-inflamatória e vou fazer sete no total, sem interrupções. Pedi pra pular um dia pra ir num Festival Indiano no Nova Gokula, mas o médico disse que isso seria interromper o tratamento, então vamos lá para mais seis dias de massagens e aguardar o próximo Festival. 

Fazer a dieta não está sendo assim tão difícil, claro que tenho vontade de beliscar porcarias, especialmente chocolates e ela também tem me privado um pouco do convívio social, mas confesso que o único momento realmente difícil foi ver o povo comer minha pizza predileta embaixo do meu nariz, acho que os olhos até encheram um pouquinho de lágrima, mas passou na quarta colherada do meu caldo de legumes. Dei uma emagrecida também e a bailarina em mim agradece.

Na quinta-feira passada voltei pro Ballet e consegui fazer a aula toda! Claro que achei meu rendimento péssimo, mas pra alguém que estava quase dois meses sem aula e lutando contra artrite meu rendimento foi na verdade excepcional! (Exercício mental diário: ser menos exigente comigo mesma). Infelizmente essa semana não conseguirei ir, mas tem mais a ver com os horários das massagens do que com as dores. Hoje passei o dia com dor em muitas articulações, a pior foi a do joelho direito que me fez mancar boa parte do dia, mas também hoje reduzi o corticóide para 2,5mg e tirarei ele totalmente daqui 3 dias :)

Estou animada com o tratamento. Tenho seguido a dieta à risca e não vacilei em absolutamente nada porque estou muito confiante de que se fizer tudo certinho vou melhorar e vou me livrar desses medicamentos que tanto mal me fazem. O metotrexato que tomei durante tantos anos me dava dor de estômago e ressacas monster mesmo sem ter bebido tanto. Já me sinto livre sem ele e sei que a sensação de liberdade será ainda maior quando encerrar o corticóide. Também não fiquei triste por perder o Festival pra fazer a massagem, estou praticando o desapego do tipo: não deu, não deu, não era pra ser e ponto. Acho que isso vai me ajudar a ser mais feliz.







terça-feira, 6 de outubro de 2015

Terça-feira! É dia de aula na Escola de Dança de São Paulo, mas eu estou aqui rodeada por ingredientes novos que não faziam parte da minha culinária, como feijão azuki, gengibre em pó, água de rosas e afins e a mão direita latejando de dor como se eu tivesse sido picada por abelhas.

Ainda não posso voltar, mas a dieta segue de vento em polpa, estou aprendendo a cozinhar novas coisas, conhecendo novos sabores, como a masala, que eu mesma preparei (não tem segredo nenhum, é só misturar vários pozinhos, pelo menos na receita do médico).  Não vai ser fácil, hoje já teve festa na firma, no feriado tenho dois aniversários de grandes amigos, mas vida que segue,melhor ir e não comer nada ou não ir porque ficou em casa morrendo de dor? Claro que a dieta ainda não fez efeito nas dores, hoje além da mão dolorida, já tive os joelhos ruins pela manhã e agora doe o ombro esquerdo, porque artrite é assim, não gosta de rotina.


A meta por ora é tomar os medicamentos da ayurveda (uma parte ainda está vindo da Índia), retirar o corticóide aos poucos, focar na dieta e viver um dia de cada vez, mesmo. No fim de semana fiquei bem a maior parte do tempo, então é rezar para na quinta-feira acordar sem dor e voltar pro ballet, mesmo que esse voltar não seja definitivo. E cultivar a paciência, essa talvez a parte mais difícil. 




quinta-feira, 1 de outubro de 2015


Hoje 01 de outubro de 2015 eu iniciei a milésima tentativa de ficar bem da artrite, milésima ou 36ª, não tenho muito certeza, foram muitas. Mas essa é diferente e por isso resolvi relatar (especialmente para mim) o desenvolver dessa história toda. Diferente porque pela primeira vez ouvi a palavra “cura” e é isso que venho buscando ardentemente por anos; 8, especificamente.
O nome do tratamento? Ayurveda.  O tratamento consta a princípio de uma dieta detox de 15 dias + 1 dieta de equilíbrio por mais 15 dias, medicamentos indianos fitoterápicos e herbo-minerais e massagem com pindas. Hoje iniciei uma parte dos medicamentos e segunda começo a dieta.
Há quase dois meses atrás dei um “mau jeito” na coluna que me afastou de todas minhas atividades físicas e algumas sociais e um mês atrás ainda não recuperada tive uma reação alérgica à minha segunda tentativa de remédio biológico. Nestes dois meses tive vários tipos de frustrações: físicas limitantes, emocionais, surtos de raiva, de tristeza, de medo. Você vai dormir com a roupa do ballet arrumadinha na cômoda, mas acorda no meio da noite chorando de dor, com o braço travado e não sabe se chora mais da dor física ou da dor de saber que você ainda não vai voltar a dançar. Você vai para o trabalho e não sabe se vai conseguir voltar sozinha, não sabe se vai ser o braço, a perna ou o joelho que vai faltar.
O quê meus amigos mais ouvem nos últimos dias é "estão sendo dias difíceis". E estão! Fisioterapia, acupuntura, exames (daqui a pouco viro VIP do Lavoisier), massagem, médico homeopata, reumato, especialista em imunologia, remédios de tudo quanto é lado pra apaziguar a dor. Todo mundo tem uma receita, um pai de santo, um decreto, uma meditação, uma oração e eu juro que aceitei todas e todos, mas por ora nada funcionou.
Metotrexato, o típico remédio da artrite reumatoide simplesmente parou de fazer efeito pra mim (curiosamente na época que eu estava querendo tentar outro medicamento por conta dos efeitos colaterais), o Etanercepte que consegui depois de algumas idas e vindas à farmácia do SUS alto custo (o tratamento para um mês custa de 4 a 8 mil reais!) deu reação alérgica na pele, inchaço, coceira e calor intenso e por fim o Infliximabe, também conseguido através do SUS deu uma reação bizarra no corpo todo: de deformações a falta de ar.
A Paula, uma amiga da yoga me falou: você já procurou a ayurveda? É a minha próxima tentativa, respondi. Ela me falou com tanta paixão sobre o assunto que marquei a consulta com o médico dela na mesma hora e uma semana depois, que foi ontem, passei em consulta com ele. Falamos por duas horas e ele ao referir-se ao fato dele ter visto pessoas com casos bem mais graves que o meu e que se recuperarem lindamente, lançou a frase que mais gostei de ouvir: Bailarina com artrite? Nunca vi! Você vai ficar bem.